Jay-Z — 4:44

Pedro Pinhel
Original Pinheiros Style
2 min readJun 30, 2017

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Disponível apenas no Tidal — plataforma do próprio HOV — pra dificultar a vida de quem só quer escutar música numa boa, "4:44" é o décimo terceiro álbum do iceberg Jay-Z. Este fato aumentou sensivelmente o nível de irritabilidade do nosso editor-chefe, já que até o simples ato de linkar o disco via embed do site de streaming em questão se tornou um trabalho hercúleo. Pra deixar a coisa toda mais leve e bem humorada, lembramos ao OPSer que o último disco de Jay disponível no Spotify é "Hard Knock Life Vol. 2", de 98. Joke’s on us, bitch. Produzido por um favorito da casa, No I.D., quatro-e-quarenta-e-quatro bateu bem por aqui nas primeiras audições. Os temas tratados pelo hoje dono do Brooklyn Nets nas músicas já não impressionam tanto quanto há duas décadas, época em que o então hustler Shawn Carter costumava trabalhar duro pelo que queria, e ainda arrumava tempo pra constranger o NAS em icônicas rap battles no caminho. Faz tempo…

Passado o desconforto inicial, vamos às considerações: conforme se poderia esperar de um senhor de quase cinquenta anos, o flow de Jay soa bem cadenciado em “4:44”. O resultado é animador. A produção densa e sempre peculiar de No I.D. cria boas texturas sonoras pro nosso empresário-CEO-milionário-celebridade preferido destilar suas histórias de gente muito rica. Faixas como Smile, que sampleia a obra-prima Love’s In Need Of Love Today, do mestre Stevie Wonder, jogam o nível da produção lá pra cima. As rimas de Kill Jay-Z e The Story of O.J., duas favoritas do OPS, são o melhor material do rapper em pelo menos uma década, e Family Feud é uma espécie de resposta, ainda que não à altura, às alfinetadas (ou merecidos jabs, no caso) desferidas por sua cônjuge Beyoncé no importante "Lemonade", de 2016. E tem mais colagem: Caught Their Eyes recorta Baltimore, a música mais delicada e profunda da discografia da rainha Nina Simone na nossa polêmica opinião. Bam, por sua vez, sampleia Bam Bam, hit oitentista da jamaicana Sista Nancy, porque, enfim, tá na moda samplear Bam Bam, então porque não, diz aí? Marcy Me marca a volta de Jay-Z à sua quebrada, Marcy Projects, no Brooklyn, e parece que vem vídeo por aí. Em Legacy ele conversa com seu filho, e blablabla. O fato é que o LP é surpreendentemente agradável, e traz à tona um MC que, cada vez mais, nos expõe seu lado humano, fala de defeitos, angústias e fraquezas, e esse tipo de tema é fácil de se identificar. Estamos felizes com o resultado. Belo disco, J!

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