Blu & Nottz — Afrika

Pedro Pinhel
Original Pinheiros Style
2 min readDec 14, 2023

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Uma das coisas que eu mais gosto a respeito da trajetória do Blu é o fato de ele fazer sempre o oposto do que a indústria fonográfica espera dele. Ou pelo menos esperava, já que há alguns anos ficou mais que evidente que o negócio do rapper de LA é fazer seu som da maneira que bem entender. Certamente assombrado desde então pelo impacto (positivo e negativo) de seu disco de estreia, o clássico “Below The Heavens”, de 2007, o artista tem lançado, em anos recentes, um punhado de bons LPs e EPs, dos quais vale citar Gods In The Spirit, de 2013, e Titans In The Flesh, de 2016 — que em 2018 se tornaram um só na compilação Gods In The Spirit, Titans In The Flesh. Tem também o ótimo Miles, de 2020, uma volta às origens do MC ao lado do veterano Exile que rendeu até uma entrevista aqui no OPS. Afrika, que acaba de sair do forno, resgata a conexão com o versátil Nottz em dez faixas cujos nomes são todos em swahili, dialeto banto com o maior número de falantes, e uma das línguas oficiais de Ruanda, do Quênia, do Congo, da Tanzânia e de Uganda — além de uma das principais línguas do continente africano. Faixas como Kuwakaribisha (Welcome), Jina Langu (My Name), Mungu (God) e Matunda Marufuku (Forbidden Fruit) mostram que, além de uma busca por suas origens, iniciada lá em 2020 com Miles, Blu parece trilhar um caminho mais espiritualizado em suas letras. Musicalmente é aquilo lá que a gente adora: bases carregadas de samples, muitos deles de música africana, aquele pique chiado e enfumaçado típico de produções underground, e o flow sempre açucarado de um rapper que segue evoluindo enquanto vai passando bem abaixo do radar. Sorte a nossa, diz aí?

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