Barba Negra — Loops e Mandingas (feat Pirata Raíssa)

Pedro Pinhel
Original Pinheiros Style
2 min readJul 4, 2023

--

E o glorioso Barba Negra, O Terrível Ladrão de Loops, alias do paulista de Taubaté Junior Ralph, segue brincando com o lugar comum do produtor de rap que nunca deixou de seguir a cartilha do DJ Premier em Loops e Mandingas, seu novo projeto. Criado em parceria com a artista e poetiza Raíssa, a mixtape é dividida em duas faixas, “Lado A” e “Lado B”, totalizando pouco mais de meia hora de música e poesia em estilo spoken word. De ponta a ponta, Barba cria a cama pra Raíssa, uma mulher negra, falar sobre diversos temas direta ou indiretamente conectados às suas vivências — o primeiro assunto abordado, por exemplo, é Tia Ciata, figura emblemática entre os negros baianos que, já alforriados, migraram para o Rio de Janeiro e passaram a se (re)conectar através da afro religião e das batucadas que viriam a ser os pilares da gênese do samba (e se o tema lhe pareceu interessante, leia o livro Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro, de Roberto Moura). Mas ela fala também de maternidade, laços familiares, música, desafios e inspirações, citando o engajamento de outras mulheres, como a norte americana Angela Davis (“quando a mulher negra se movimenta, a sociedade inteira se movimenta”) e a escritora paulistana Carolina Maria de Jesus. Musicalmente, Barba Negra parte de uma gira, que abre o lado A, e vai em direção àquilo que o poeta chamaria de rebosteio musical, passeando por diversos estilos de música essencialmente brasileira — com foco especial para o soul mela cueca de artistas como Luis Vagner, Robson Jorge e Tony & Frankie, pra citar apenas alguns. Nesse sentido, portanto, as ‘mandingas’ do título dizem respeito bem mais às crônicas de Raíssa, embora sejam uma grande referência do caldeirão musical do nosso Alchemist. “É tudo escola do Madlib”, ele afirmou por mensagem de zap. É verdade, Barba. É tudo culpa dele. Dele e da infindável e sempre surpreendente cultura negra, que nos presenteou e segue presenteando com música, religião, comida, esportes, costumes e tradições orais e escritas, algumas delas muito bem documentadas por Raíssa ao longo desses trinta minutos de ouro.

Que tal dar uma força pro OPS seguir firme e forte?

--

--